Luvas
Antes de tudo, gostaria de parabenizar o capitão Gregório. Conseguiu suas vitórias e deixou o Olímpia na história. O OLilleimpia ficou apenas como título de uma coluna e é passado. Que venham mais vitórias e quem sabe uma história positiva, como a maior reação de nosso glorioso campeonato.
Mas vamos ao que interessa. O grande texto desta semana. E quando digo grande é porque é extenso e não por qualidade. Então senta, porque lá vem história. Quando entrei para esse seleto grupo meu objetivo era justamente esse, contar causos e histórias que fossem além dos jogos. Fatos curiosos, personagens caricatos de nosso torneio e cheguei até pensar em um segmento de “por onde anda”, para tentar descobrir onde estão alguns atletas que passaram por nosso torneio, como Veiguinha, Pepe, Gentil, Juarez e por aí vai.
Mas para o tópico de hoje resolvi escolher dois grandes personagens. Dois atletas que tem marca registrada na história do Clube de Pais, mas de uma forma que alguns atletas novos nem sonham que possa ter ocorrido. De quebra, pretendo citar um craque no meio. E para encerrar farei uma menção honrosa, inspirado no texto do craque Pelúcio. Então lá vamos nós. Aos personagens, peço perdão por erros de cronologia ou tempo e até mesmo de ideias criados pela minha imaginação.
A profissão mais ingrata da bola é o goleiro. Pode pegar dois pênaltis no jogo e fazer 40 defesas difíceis, mas basta um frango culminando em uma derrota, que todos os grandes feitos são esquecidos em cinco segundos. E todos só falarão no bendito frango. Acredito que seja por essas crueldades e culpas, falecido Barbosa que o diga, que ninguém quer jogar no gol. E quem jogava, pensa em pendurar as luvas. E pendura as luvas. E se arrisca na linha.
Iniciarei por idade. Meu primeiro personagem chama-se Bruno Di, ou só Di para a maioria. Hoje um centro avante que curte fazer um pivô e busca seus golzinhos. Mas esse cara iniciou sua carreira na meta, lá no futsal Scremin se não me falha a memória. Era um guapo de destaque da geração 81 do Marista. Se não me falha a memória, de novo, era até o goleiro titular dessa formidável equipe do colégio.
Ao completar seus 18 anos iniciou sua trajetória no gol do Clube de Pais. E vou contar para quem não sabe. Di era um grande goleiro. Reflexos apurados, bom posicionamento, partidas memoráveis, mas existia um carma que o perseguia. Di era um goleiro azarado. Como não recordar de um gol que ele sofreu que descreve essa teoria. Não lembro o ano e nem as equipes. Finalização de média distância no canto, Di salta para a defesa, bola numa trave, corre a linha, bate na outra e na volúpia da recuperação, a bola volta e bate em Di, entrando de forma mansa nas redes. Foi uma sacanagem.
E o que fez Di sair do gol para ir para a linha? O Olimpia. Tomar aproximadamente 90 gols, dos mais de 100 que o time sofreu, abalou o jogador. Que foi para a linha. Uma marca que o persegue até hoje. Mas digo uma coisa. Isso só acontece com grandes goleiros, como Barbosa. Di tem o meu respeito jogando na linha e tinha ainda mais no gol. Grande pessoa fora dos campos e um craque dentro. Parabéns pela sua história na meta.
Meu segundo personagem tem uma linda história no Clube de Pais. Já é vovô e posso dizer que é até um pai para mim, como muitos outros que ainda jogam. É da geração do meu pai. Quando Dr. Falavinha desfilava seu futebol lá e eu ia apenas observar algumas lendas com que sonhei jogar ou até mesmo já joguei. Mas esse cara meu pai deve ter tido uma pontinha de decepção. Calma que eu explico.
Quando eu era muito novinho, eu era goleiro no futsal. Fui até meus sete anos. E eu queria ser goleiro porque achava esse cara muito bom no gol. Betão era fantástico na meta. Orientava o jogo todo, fazia vários milagres e quando falhava, levantava a cabeça e no lance seguinte salvava a pátria. Que pai sonha que seu filho seja goleiro, ai a decepção.
Lembro como se fosse hoje, no gol de entrada, que ficava próximo a cantina do Mário, pênalti. Betão usava uma camisa verde, igual a do Tafarel na Copa de 94. Não sei quem bateu, mas bateu bem, no canto esquerdo baixo do goleiro. Mas lá tinha um baita goleiro. Pulou no canto certo e agarrou a bola. Recordo que vibrei com a defesa. Betão aposentou as luvas e eu achei que jamais teria a honra de jogar com ele na meta.
Ledo engano. O destino me permitiu jogar ano passado, no torneio inicio pelo NY City. Sai de campo feliz, pelo título e pela honra que tive de ver mais uma vez Betão no gol e dessa vez comigo em campo, lado a lado. Obrigado pelo privilégio. Ah, só para citar o craque, tal pai tal filho. Se você não sabe, o Pisca também já jogou de goleiro. E era uma mistura de Di com Betão.. hehehehe.. as vezes tinha um azar…
Vou fazer minha menção honrosa, curta e grossa, já ta longo demais. Alfredo Scremin é o principal personagem do Clube de Pais, com toda certeza desse mundo. A grande maioria dos atletas que desfilam seu futebol no campo 1 hoje, foram alunos dele. Quase todos aprenderam, ou deveriam ter aprendido que é meu caso, no Futsal Scremin. Seria muito legal uma homenagem a este senhor na festa de encerramento de final de ano. Fica a dica.
Enfim, avisei que vinha história. Quem sabe uma curiosidade para alguns ou apenas recordação para muitos. Mas como já falei, minha admiração a todos os citados. E vida longa aos goleiros, profissão ingrata, que as vezes eu encaro brincar em algumas peladas, ainda sonhando em ser um Betão ou um Di no gol.